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segunda-feira, 29 de maio de 2017

Devaneios: "Uma Mente Brilhante" (2001)

Este é um dos poucos Oscar baits que eu adoro. Sim, este filme foi claramente feito para levar umas quantas estatuetas douradas para casa (spoiler alert: ganhou quatro) e nota-se que alterou ou omitiu grande parte da vida perturbada de John Nash (paz à sua alma). 

Mas deixemo-nos de falsos moralismos. Desde o primeiro minuto que eu percebi que este era um daqueles filmes que me ia levar às lágrimas nos créditos finais. É tudo tão subtil, tão dourado e verdadeiro.

Após o discurso inicial de um dos professores, a câmara foca-se em Russell Crowe e nunca mais o larga. Afinal de contas, esta é uma história sobre este aluno calmo e com um cérebro diferente do normal e que cria analogias entre números e letras em praticamente todas as ocasiões. E desde cedo entendemos que algo não bate certo: esta noção agrava-se ainda mais para todos aqueles que deram os primeiros passos no cinema com o "Fight Club" do David Fincher, o que nos leva a duvidar de todas as personagens, interações sociais e momentos da vida de John Nash. Esta obsessão com o que é real e o que é produto da imaginação da personagem, acaba por retirar um pouco da magia a este filme. Já não somos tão facilmente surpreendidos com a esquizofrenia que vai crescendo, minuto a minuto, na mente do futuro professor da faculdade de  Princeton.
 
Contudo, a influência de Russell Crowe nos restantes elementos do elenco - a atriz Jeniffer Connelly está em modo Godlike e merece totalmente o reconhecimento dado através do Óscar de Melhor Atriz Secundária em 2002 - é divinal e torna este filme numa autêntica epopeia de superação para todos os que estão envolvidos no enredo. Nada é deixado ao acaso e são os pequenos detalhes como a banda sonora divinal do compositor James Horner que elevam ainda mais este filme. Fossem todos os Oscar baits assim e, na verdade, éramos todos mais felizes.

E aí vão 2-0 para o Ron Howard. Até parece fácil.

Devaneios: "Rush - Duelo de Rivais" (2013)

Filmes sobre desporto são como os mosquitos na Tapada das Mercês. Há aos pontapés. Uns mais resistentes e que desafiam o tempo (como o "Space Jam" e o "Coach Carter"), outros amorfos [inserir título de filme x] e uns meio esquisitos que aparecem do nada e que deixam uma impressão diferente dos restantes. 

"Rush - Duelo de Rivais" é o terceiro caso. Deixa de lado a história da cinderela (a equipa mais fraca não vai ganhar, por milagre, a uma estrutura claramente melhor em todos os aspetos) e apresenta-nos uma grande história sobre dois pilotos que utilizaram uma rivalidade amigável para superar cada uma das fraquezas na pista de asfalto e na vida real. Sim, é um filme sobre Fórmula 1. E se querem saber porque é tão bom, perguntem ao Ron Howard já que foi que ele criou um argumento quase perfeito que aproveita cada detalhe: o som dos motores, a adrenalina de estar num carro (que parece feito de papel), os anos 70, a misantropia de Nikki Lauda (Daniel Brühl) e a o arrogância cativante de James Hunt (Chris Hemsworth). 

E o melhor de tudo isto é que o filme não nos obriga a escolher um lado nem a gostar de carros rápidos. Apresenta-nos duas personagens completamente distintas que partilham o mesmo objetivo: ser campeão mundial desta modalidade. E o foco é essencialmente esse: o progresso penoso que vão ter de percorrer se quiserem atingir este objetivo. 

O eye candy recai sobre as várias corridas épicas entre estes dois e que atravessaram destinos bem conhecidos dos fãs desta modalidade - como a extinta e demoníaca pista de Nürburgring- e a beleza natural do elenco feminino composto por Olivia Wilde e Alexandra Maria Lara.


Devaneios: "T2: Trainspotting 2" (2017)

Isto não é novidade, mas precisa de ser dito: o mundo sofreu muitas mutações desde o aparecimento de Trainspotting nas salas de cinema em 1996. Ah os famosos anos 90... Uma era marcada por uma avalanche de sentimentos depressivos e de fúria que varreram tudo o que aparecia à frente, desde a música até ao cinema. Era tudo mais negro, mais volátil e mais honesto. E este filme do Danny Boyle disseminava muito bem esta mensagem de desespero por todas as camadas de sociedade.

Atualmente, verifica-se, exatamente, o oposto. Apesar dos problemas globais estarem cada vez mais a atingir um ponto sem retorno, a indústria de hollywood esconde tudo isto com filtros, histórias e personagens mais simpáticas. Não deixa de ser um contraste curioso, visto que à medida que envelhecemos, tudo parece perder a magia de outrora e precisamos de nos entreter com coisas novas e revestidas por um plástico brilhante. 

E é aí que entra esta sequela. Um filme totalmente deslocado e que não faz qualquer sentido em 2017. Ironicamente, este é claramente o último chuto na veia que partilhamos com este elenco. Um shot de heroína num corpo mais envelhecido e menos fugaz e que, sem qualquer surpresa, não oferece qualquer tipo de reação. Trocando isto por miúdos, é tudo demasiado brando e feliz nesta nova aventura do Ewan McGregor. É que nem a merda da banda sonora tem o mesmo efeito. E isso é triste.

2,9

sábado, 4 de março de 2017

Devaneios: "Logan" (2017)

Sim, Hugh. Já podes descansar. Eu entendo o teu sofrimento. Passaste anos e anos a fazer de Wolverine enquanto vários realizadores iam brincando a personagem. Felizmente, o James Mangold desta vez lá acertou. O filme anterior ("The Wolverine") deu alguns sinais de vida, mas acabou cair mesmo no fim com o surgimento de um robô samurai gigante. Não foi espetacular - longe disso - mas fez lembrar alguns dos melhores momentos da banda desenhada criada por Stan Lee. 

"Logan" está muito próximo da perfeição, pelo menos durante a primeira hora que se foca em criar um build-up lento e cativante. Cada vez que Hugh Jackman leva uma facada ou é baleado, nós também sentimos esta dor. Longe vão os tempos em que o Wolverine era um tanque de fúria praticamente inquebrável. A personagem foi desgastada no cinema e o próprio ator também já não é o mesmo. Sem poder de regeneração e num futuro sem qualquer réstia de esperança, não há muito por que lutar: existe uma clara falta de paciência do anti-herói em lidar com certas tarefas do quotidiano, como, por exemplo, conduzir pessoas sem nome em limousines e tentar ajudar uma mãe desesperada. 

Este misto de Western e rip-off do videojogo "Last of Us" (tenho a certeza que o realizador tem várias horas nos save da PS4), consegue ter momentos brilhantes - especialmente quando Patrick Stewart se junta ao carrossel de emoções que o espetador atravessa durante esta longa viagem -, mas deita tudo a perder com um final frenético e que perde a ousadia dos primeiros minutos. Aquele maldito vilão / clone descartável estragou o enredo a partir do momento em que é introduzido. Não há como o negar.

Já podes descansar em paz, Hugh. E com o sentimento de dever cumprido.

domingo, 25 de janeiro de 2015

Crítica: "Birdman or (The Unexpected Virtue of Ignorance)" (2014)

Uma conquista técnica sem paralelo.

Birdman or (The Unexpected Virtue of Ignorance) conta-nos a história decadente de Riggan Thomson, um actor que ficou famoso após interpretar o famoso super-herói Birdman em três êxitos de bilheteira, que tenta relançar a carreira ao produzir uma peça - adaptada da obra de Raymond Carver - para a Broadway. Em plena véspera de estreia, o actor cai numa luta constante contra si mesmo e todos os que o rodeiam.

Alejandro González Iñárritu consegue captar na perfeição a tormenta existencial que assombra a mente de Thomson através da filmagem numa espécie de shot contínuo personalizada (já utilizada em vários filmes, com especial destaque para Rope de Hitchcock) em que a câmara acompanha todos os movimentos dos actores e parece ter vida própria - a supra-citada técnica referida em inúmeras páginas da internet.

Esta técnica aliada aos toques incessantes de uma bateria incansável dão vida ao St James Theater e ao ambiente sujo e frenético de Nova Iorque. Os diálogos são maioritariamente um pedaço de genialidade que fazem referências constantes à própria indústria cinematográfica e outros pequenos detalhes do quotidiano e moldam, através de várias deixas, a personalidade de cada um dos actores presentes na fita. Birdman possui ainda uma aura difícil de explicar e alterna constantemente entre o real e o ficcional, tornando-se num exercício de concentração para o próprio espectador.

No campo das interpretações temos o privilégio de assistir ao renascer de Michael Keaton que agarra com uma força invisível o papel de Riggan e tenta, também o próprio actor, relançar o seu nome nos livros de Hollywood, exactamente como o personagem do filme. A carreira de Keaton está inexplicavelmente ligada às decisões que Riggan tomou no passado (é como se o Inãrritu tivesse feito um argumento de raiz para Michael, visto que o actor interpretou a personagem Batman há mais de dez anos no grande ecrã, o que acentua bastante a vertente meta presente nesta longa-metragem). O elenco é ainda composto por vários nomes sonantes como Emma Stone, Zach Galifianakis e o sempre entusiasmante e vibrante Edward Norton que, por pouco, não rouba o protagonismo a Keaton.

Birdman é uma crítica mordaz, uma sátira negra e incessante que desafia a própria sanidade dos espectadores testando constantemente a nossa percepção do real e do imaginário. É, sem dúvida, um dos filmes mais genuínos dos últimos anos e que inevitavelmente acaba por cair na própria loucura de Riggan.

terça-feira, 15 de abril de 2014

Crítica: "Grand Budapest Hotel" (2014)

Outra visão criativa e adorável de Wes Anderson

Grand Budapest Hotel centra-se essencialmente nas aventuras inacreditáveis de Gustave H., um concierge muito famoso do fabuloso Grande Budapest Hotel localizado na República fícticia de Zubrowka, e o seu melhor amigo e fiel companheiro, Zero Moustafa

O rigor técnico, como a utilização excessiva da simetria, o vestuário, as cores alegres e os cenários magníficos, transportam-nos imediatamente para o mundo de Wes Anderson. É um deleite e um privilégio poder assistir a algo tão bem trabalhado. O enredo simples e frenético aliado à banda sonora genial de Alexandre Desplat, fazem o espectador suplicar por mais. Existe tanta coisa para explorar e é uma pena ter apenas 100 minutos de duração.

A ousadia de Ralph Fiennes - que interpreta Gustave - combina perfeitamente com a ingenuidade de Tony Revolori (Moustafa) e resulta em peripécias hilariantes. O vasto elenco transmite uma alegria contagiante e está repleto de nomes sonantes: Tilda Swinton, Edward Norton, Adrien Brody, Willem Dafoe, Harvey Keitel, Jeff Goldblum e ainda o incontornável Bill Murray são apenas algumas figuras que podemos encontrar nesta longa-metragem. Uma característica já habitual nos filmes de Anderson.

Grand Budapest Hotel é um filme especial repleto de cameos brilhantes e diálogos rápidos como uma bala.  Este segundo factor torna o filme, por vezes, difícil de acompanhar porque o ritmo demasiado acelerado acaba por nos fazer perder detalhes e pontos-chave do enredo. Contudo, os personagens memoráveis e a cinematografia brilhante de Wes Anderson convidam-nos a entrar neste mundo mágico onde a imaginação não tem limites. Uma obra mais que recomendada para os fãs deste realizador.

Para ver e rever.

domingo, 13 de abril de 2014

Crítica: "Capitão América - O Soldado de Inverno (2014)"

A estrutura coesa e lógica para explicar a ordem dos acontecimentos tornam a mais recente adaptação das aventuras de Steve Rogers, para o grande ecrã, no projecto mais coeso da Marvel até à data.

Após os eventos dos Vingadores, a S.H.I.E.LD começou a tornar-se numa enorme rede de segurança e a tentar anteceder os próximos ataques terroristas no mundo. Um dos agentes mais importantes deste organismo é Steve Rogers - também conhecido como Capitão América - que tenta conciliar o tempo travar ameaças mundiais e a tentar perceber tudo aquilo que perdeu, maioritariamente a nível cultural, desde que foi congelado. Existe um ambiente de insegurança muito patente na S.H.I.E.L.D sobre decisões estratégicas para proteger a população. Esta tensão política culmina numa conspiração enorme quando surge um soldado com um braço biónico - Soldado de Inverno - que tem a tarefa de eliminar certos alvos estratégicos e testa o verdadeiro propósito desta organização.

Esqueçam, por momentos, que este é um filme sobre super-heróis. Os irmãos Russo, os dois realizadores do filme, conseguiram tornar o Capitão América num dos heróis mais interessantes da Marvel através de guião interessante que explora o passado do personagem e permite introduzir uma fornada de personagens novos no universo de Stan Lee.

Alternando acção frenética (com pouca utilização de CGI e um foco maior na luta corpo a corpo) com uma abordagem de eventos reais - como a queda do império Nazi - o filme consegue ainda ter tempo para explicar os motivos de cada um dos personagens e construir uma teia de sequências que menciona diversas identidades conhecidas (Banner, Doctor Strange, Tony Stark).

As actuações são do que se podia esperar num filme deste género. Não existe muito pano para mangas mas Chris Evans prova mais uma vez que tem o carisma necessário para agarrar o papel. A química com Scarlett Johansson, está melhor que nunca e nota-se um ambiente descontraído que favorece o desenvolvimento do filme. Os novos personagens são óptimos e integram-se perfeitamente no argumento. Com propósitos distintos, cada um dos novos nomes, tem hipóteses de demonstrar porquê é que foram escolhidos. O vilão é um autêntico "badass" com um look futurista e apresenta um desafio real à força sobre-humana de Steve Rogers. É o inimigo mais interessante nos filmes da Marvel até agora e que permite aprofundar uma série de eventos paralelos. Arrisco-me a afirmar que é melhor que Loki e é claramente o que faltava num filme deste calibre.

Esta longa-metragem não deve ser encarada como apenas mais um filme de super-heróis. Trata-se de uma sequela que supera em todos os aspectos o antecessor e insere-se no ramo de thriller político e de espionagem. Por esta razão,  Capitão América - O Soldado de Inverno é um filme mais que recomendado não só para os fãs de super-heróis como para todos os que apreciam uma história de espiões digna dos anos 80.